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“Tchuang-tse sonhou que era uma borboleta e não sabia, ao acordar, se era um homem que tinha sonhado ser uma borboleta, ou uma borboleta que agora sonhava ser um homem”.
Herbert Allen Gilles, Tchuang-tse (1889).
Em muitos povos primitivos, os sonhos fazem parte do cotidiano de seus indivíduos. Suas mensagens são consideradas tão relevantes a ponto de direcionarem suas vidas. Hoje em dia, porém, a maioria das pessoas não dá a devida importância ao fenômeno do sonho. No entanto, seus aspectos simbólicos, compensatórios e até premonitórios fascinam a todos.
Muitos destes aspectos são amplamente abordados em diversas publicações de cunho científico, esotérico ou místico. Aqui, será exposta uma questão filosófica pouco tratada a respeito dos sonhos, mas interessante de se observar.
A maioria de nós deve ter notado que os sonhos muitas vezes se repetem, talvez querendo indicar situações que nos incomodam durante a vida, mas que ainda não conseguimos resolvê-las. Alguns ainda observam sonhos que possuem certa sequência, ou seja, os temas se desenvolvem, prosseguem e mesmo concluem de um sonho para o outro. E isso acontece não só na mesma noite como também em noites diferentes. Mas poucos são os que percebem um evento muito interessante. Instantes antes de se pegar no sono, surgem na mente lembranças do último sonho. Se a pessoa cochilou no meio do dia, isso pode atrapalhar esta ocorrência.
Baseado nisso, uma experiência que pode ser feita por qualquer um é a seguinte: ao deitar-se para dormir você deve relaxar, tentar não pensar em nada a não ser em seu último sonho. Faça um esforço para lembrá-lo. Este é o segundo melhor momento do dia para conseguir recordar seu sonho. O primeiro é logo após acordar. Assim que surgem as lembranças, o sono vem imediatamente. Isso serve como técnica para se livrar de uma insônia. É como se a mente agarrasse um fio que havia escapado e agora retomado. Isso nos instiga a imaginação. Parece que a vida onírica possui uma continuidade, e é interrompida apenas pela vigília (período em que nos mantemos acordados).
A vida, como sabemos, segue de forma contínua. De um dia para o outro temos tarefas a completar, e somos o mesmo indivíduo que dormiu a noite passada. Mas talvez exista um fluxo contínuo também nos sonhos. Difícil de entender e perceber por nossa mente racional, mas, intrigante. Será nossa vida os acontecimentos de nosso sonho e a interrompemos todos os dias ao acordar?
Pao Yu sonhou que estava em um jardim idêntico ao de sua casa. Será possível, pensou, que haja um jardim idêntico ao meu? Acercaram-se dele algumas donzelas. Pao Yu, atônito, disse a si mesmo: alguém terá donzelas iguais a Hsi-Yen, a Pin-Erh e a todas as de minha casa? Uma das donzelas exclamou: “Aí está Pao Yu. Como terá chegado até aqui? Pao Yu pensou que o haviam reconhecido. Adiantou-se e disse-lhes? Estava caminhando: por casualidade cheguei até aqui. Caminhemos um pouco”. As donzelas se riram. “Que desatino! Confundimos-te com Pao Yu, nosso amo, porém não és tão garboso como ele”. Eram donzelas de outro Pao Yu. “Queridas irmãs”, disse a elas, “eu dou Pao Yu. Quem é vosso amo? ” “É Pao Yu”, responderam. “Seus pais lhe deram esse nome, composto dos caracteres Pao (precioso) e Yu (jade), para que sua vida fosse longa e feliz. Quem és tu para usurpar seu nome? E se foram rindo.
Pao Yu ficou abatido. “Nunca me trataram tão mal. Por que me detestaram essas donzelas? Existirá, de fato, um outro Pao Yu? Tenho que averiguar. ” Movido por esses pensamentos, chegou até um pátio que lhe era familiar. Subiu a escada e entrou em seu quarto. Viu um jovem deitado; ao lado da cama, rindo, umas mocinhas faziam trabalhos domésticos. O jovem suspirava. Uma donzela lhe disse: “Que sonhas, Pao Yu? Estás aflito? ” “Tive um sonho muito esquisito. Sonhei que estava em um jardim e que não me reconhecíeis e me deixáveis só. Eu vos segui até a casa e me encontrei com outro Pao Yu dormindo em minha cama". Pao Yu não se conteve e exclamou: “Vim em busca de um Pao Yu; és tu? ” O jovem levantou-se e o abraçou gritando: “Não era um sonho, tu és Pao Yu”. Do jardim uma voz chamou: “Pao Yu! ” Os dois Pao Yu estremeceram. O sonhado se foi: o outro dizia: “Volta logo, Pao Yu. Pao Yu despertou. Sua donzela Hsi-Yen lhe perguntou: “Que sonhavas, Pao Yu? Estás aflito? ” “Tive um sonho muito esquisito. Sonhei que estava em um jardim e que não me reconhecíeis...”
Tsao Hsue-king, Sonho do aposento vermelho (c. 1754)
Jorge Luis Borges - Livro dos Sonhos - Trad.: Cláudio Fornari.